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Pulsa no ritmo do tempo

No gozo do movimento inanimado,

No gosto do pecado impuro, mas sadio,

No abraço de saudade estendida, no vazio,

Vácuo tempo morto, corpo solto, mar envolto em mim.

E pulsa.

E viver será só festejar!

“Eu queria que essa fantasia fosse eterna.”

É de comum acordo o quão clichê esse verso se tornou dentre aqueles que sofrem da famosa (e angustiante) DPC – Depressão Pós – Carnaval. Mas nada sintetizaria tão bem, o que os nossos corações, carregados de sentimentalismo, desejam.

No ano em que se celebra os 60 anos de trio elétrico, e 25 anos de axé music, assistimos sob o céu azul brilhante de fevereiro, a reafirmação tão esperada por todos os que acompanham (e veneram) o decorrer da história da folia momesca: o carnaval de Salvador, voltou ainda mais forte, onipotente, e implacável! Ninguém, jamais, fará nada que se aproxime a grandiosidade da essência do que se é visto, vivido, e sentido aqui.

A multidão elétrica se espalhou pelos principais circuitos da folia, e conferiu o que se torna mais forte a cada ano. A nação fiel chicleteira, seguindo e endeusando Bell Marques e sua trupe; a fé dos adeptos da religião que se tornou a musa Ivete Sangalo, esbanjando irreverência, musicalidade, e a sensualidade de toda menina baiana; a inquietação soberana de Daniela, que traz correndo em suas veias o samba-reggae, homenageando o grande Neguinho do Samba; o brilho da pequena Eva comemorando os seus 30 anos de música, carnaval, poesia, e de uma multidão encantada, que assim como os donos dessa festa, respiraram uma musicalidade intrínseca nesses 30 anos de história; dos também ‘trintões’ Cheiro de Amor e Araketu; da percussão inigualável da Timbalada, se mostrando tão forte, quanto o gênio criador, mestre dos mestres, inovador, e onisciente Carlinhos Brown – além de todos os outros artistas, que abrilhantaram ainda mais esses seis dias mágicos.

E para comemorar com grande estilo, as bodas de diamante do nosso trio, nada mais justo, do que trazer de volta o primeiro cantor a subir nesse carro eletrizado pela música, e aquele que foi capaz de reconhecer no baiano, o povo ‘sagrado e profano’, ‘filhos de Gandhi, de Dodô e Osmar’: Moraes Moreira. ‘Voar o mundo, se preciso for’, diria ele em Pombo Correio. E ele voou. E mesmo fora do nosso carnaval, há 10 anos, voltou, e levou o seu trio independente para a avenida, e foi acompanhado por foliões saudosistas, que o acolheram de braços abertos, seguindo-o do inicio, ao fim dos percursos em que se apresentou.

E as comemorações não pararam por ai. O carnaval desse ano foi marcado também pelos 25 anos de axé music, contando com a participação do trio independente Axé anos 80, que desfilou em dois dias, sendo seguido por uma pipoca calorosa e sadia, que cantou e encantou os antigos sucessos do carnaval, provando que ainda sabemos valorizar a origem, e a qualidade da música que nos foi presenteada pelo pai Luis Caldas.

O carnaval do ‘Andarilho Encantado’ sexagenário, do ‘Jubileu de Prata’ do axé, dos encontros na avenida, da pipoca saudável, da multidão sob efeito da insanidade mágica da percussão, que tão logo convida o coração a pulsar em uníssono ritmo. A cidade da mistura de povos e ritmos, se transformou na cidade estampada por sorrisos. O maravilhoso é deixar que a quarta-feira de cinzas venha com uma saudade que quer gritar em alto, e bom som:

“Carnaval da Bahia, oitava maravilha. EU NUNCA IREI TE DEIXAR, MEU AMOR!”