sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nada novo sob o Sol

As luzes se apagam anunciando o show. Tudo silencia. Sem aplausos, ventos assobiando. Sem som, sem nada. Palco limpo. Cortinas fechadas. Cadeiras vazias. Nada novo sob o Sol. Nada acontece no silêncio devastador e eternizante. Nada, nada, nada, nada.

O tempo não passa, como quem desafia todas as leis naturais da vida. O risco do silêncio é abismal. A morte da alma, colecionadora de desgostos. Bem daqui eu vejo: nada acontece no silêncio devastador e eternizante. Nada se move. Ninguém me socorre. E eu grito, e continuo gritando em mal traçadas linhas, o socorro que nunca chega. Quem ouve, não percebe. Quem percebe, é só mais um que também grita socorro. E não venha, cada qual no seu canto chora o seu pranto.

A esperança (comediante) vez ou outra sobe ao palco. Eu rio sozinho, e ela vai. Porque ficar a toa é dispensável. Às vezes ela volta, mas numa freqüência cada vez menor. E de novo, nada acontece. A lucidez é o martírio da alma.

As luzes continuam apagadas. Sem refúgio, eu caminho. Sem destino, eu caminho.

Caminhando e existindo.

Nada além.

domingo, 15 de maio de 2011

Perfume Barato

Eu grito, me visto, me limpo, me rasgo. Você desvia o olhar para o horizonte em que nada acontece. Você adormece. É o que te resta. A mim, não. Eu grito, me visto, me limpo, me rasgo. Me banho num frasco inteiro de perfume barato, acendo velas, visto roupa nova. Você dorme. “É a chuva e o frio”, acredito. Não acredito, mas alimento a esperança. Volto para a chuva, e a visão da cidade vazia. Domingo, fim de noite, outono, e solidão acumulada. Eu, você dormindo, as fotos e as lembranças, o cigarro na metade, uma garrafa vazia, e os olhos borrados-vermelhos.

Quero escrever. Quero te dizer as muitas-coisas-entaladas, e você só dorme. Quero que leiam todo o sentimentalismo que pula do meu peito para o papel, e do papel para o lixo. É assim que tem que ser.

domingo, 1 de maio de 2011

Apenas Imagine

Agora vai, que o teu destino te espera. Sem culpa ou medo, você simplesmente vai. Se entregue aos caminhos com toda a verdade alucinante que eles reservam. Isso é estar vivo. Procure algum botão mental e delete da memória o que fica e quem fica. O que te prende não importa, sua paixão é a liberdade. Não chore, não se preocupe. Vamos ficar bem. Você por ai, eu dentro da solidão que plantei, e agora colho. Voltando às lembranças, deixe-as comigo. Não acenda a luz. Frio, vinho, escuro, música e solidão. As velas eu acendo. Tem santo pra amores impossíveis?

É tão deprimente, que é engraçado. E inspira, viu? Vou dormir bêbado, acordar de ressaca querendo que o mundo acabe, cara amassada, corpo lânguido; e vou seguir. Não tão vivo quanto queria, mas seguindo, buscando caminhos e esperando as surpresas.

Boas ou ruins.

Boas. Elas sempre vêm!

Lembranças deletadas? Vá. Elas voltam quando for necessário. Me deixe comigo e a companhia agradável que não sou. Sorria, é tudo drama virginiano e álcool fazendo efeito. Vou acordar com sono. Com sonhos. Acorde também. O meu outono europeu me aguarda incansavelmente (eu quase posso ouvi-lo me chamar). Vou andar por Paris sofrendo de amor – esse plano é seu também – em algum lindo dia cinza, colecionando solidão. Mas vou amar também. Vou amar tanto, e vai ser recíproco. Quero colecionar todas as experiências que amor quiser me dar. Vou publicar um livro. Não sei quando, mas vou. Se eu não colocar o seu nome entre os agradecimentos, espere pelo autógrafo. Algo do tipo: Veja onde chegamos. A realização é a soma dos trabalhos e experiências, bem ou mal sucedidas. Você me falou disso, e aqui estou. E aqui estamos. Meu beijo mais doce e especial. Se não lembrar do gosto, apenas imagine.

Vá, sonhe, realize, volte. Ou não. Mas me escreva, me conte dos planos, me conte dos sonhos. Não tenha medo, apenas vá, e o destino se encarrega do resto.