domingo, 22 de abril de 2012

Das coisas do desejo

Desejava alguém, esse era o ponto central daquela angústia. Alguém com quem dividisse as noites que flertavam com o frio de outono. E, se de fato não havia frio nos dias e noites da estação, alguém que aquecesse, então, o frio interno. Que fizesse barulho no silêncio interno. Que quebrasse a rotina. Que colorisse as páginas. Que energizasse o ambiente, antes purificado por uma mistura sem fim de incensos e solidões. Desejava alguém, esse era o ponto central daquela angústia.

Não queria que o silêncio emudecesse os sonhos, mas isso era quase inevitável. Também desejava sorrir toda alegria que há, escondida em algum canto da imensidão do universo. Queria saber dos signos e se afastar de quem tinha a Lua em escorpião – esses são especialmente encantadores e perigosos. Mas esses são surpreendentemente mágicos. 


Queria o mundo com tudo o que tem nele. Sorrisos, dores, vazios, paz, conquistas, lágrimas... Se firmar na intensidade de viver. Desejava alguém, esse era o ponto central daquela angústia. Alguém que tardava, mas alguém que existia. Tratava-se de esperança e fé. E fé, meu caro, é incontestável.  


terça-feira, 17 de abril de 2012

Das coisas com nome


O colo
O sexo
O sabor
O belo
O ardor
O elo
O arrepio
O suspiro
O sorriso no umbigo
O comprimido ingerido
O sono
O silêncio
O nunca mais.

domingo, 15 de abril de 2012

Das coisas sem nome


E se eu tivesse ido sem pensar no depois, no antes, no nada. Ceder ao impulso do convite irrecusável, viver qualquer coisa que se destinasse. 
Se não tivesse peso? 
Se só houvesse beleza? 
Se não tivesse a saudade? 

E se, se, se...

Se fosse tudo claro e não dependesse da lógica?
Se não tivesse espera, silêncios longos, ausências constantes?
Se fosse tudo presença e doce e encanto?
Se fosse dança-a-dois, abraços aquecidos, corações palpitantes?
Se fosse tudo mágico agora, você aqui como deve ser? 
Seja você quem for, 
Se fosse sem padecer?