quinta-feira, 25 de março de 2010

Duas gotas de saliva.

Duas gotas de saliva de natureza impura.

Assim começou o fim, em sua infinita riqueza de detalhes. E as riquezas de detalhes não me fariam esquecer que amanhecia. Amanhecia um dia indeciso – se cinza, se lindo. Só amanhecia, trazendo consigo o fim. Sorte daqueles cujo amanhecer não é pressuposto do fim.

Duas gotas de saliva de natureza impura.

Caíram e molharam o seio estendido naquele sofá, elemento silencioso, como os demais daquela sala que também amanhecia. E Comportou-se naquela noite como se tivesse ciência que era o fim. Como se soubesse ser a última. Mas ninguém sabe. Se sabe, fingi que não.

Ou não.

Não sei.

Deixou-se ser tocada como se ele quisesse desvendá-la. Segredo a segredo, num corpo sagrado e humano. Beijou-lhe num beijo de adeus que ele desconhecia. Cobriu-lhe com seu corpo como se fosse um manto bordado nos mínimos cuidados e detalhes. Sorriu amargando um dissabor. Vestiu-se a tempo de ser fitada e gravada em memória. E simplesmente, partiu.



P.S.: Duas gotas de saliva, e uma confusão mental do autor!

Um comentário:

  1. Essas confusões eu prefiro tratar como profusões...

    Bom! Continue escrevendo caro futuro-colega de profissão.

    ResponderExcluir