Sobre todas as coisas que foram e as que poderiam ter sido.
Fiquei
pensando em besteiras. Coisas das mais banais mesmo. O quanto estamos
acostumados a ver os caminhões com aquelas espécies de caixas
gigantes (que eu não sei o nome) e como eles são estranhos quando
não as têm. Não estão completos. Mudei o foco após rir, é
claro. Pensei sobre quão inútil é uma pessoa que joga lixo na rua,
que pixa um muro por puro vandalismo, que maltrata animais, crianças
e idosos, que não contribuem em nada com as suas inúteis existências
e nem por isso deixam de existir. Olhei as unhas, pensei em Mel
lixando as dela e ri. Pensei sobre o frio que faz nessa manhã, se
devo aceitar o trabalho para o final de semana e que preciso dar uma
resposta logo a Victor, se devo ir aquela festa que você vai estar,
sobre o que escrever como homenagem ao aniversário de Gil. Essa
minha mania de homenagear meus ídolos. É engraçada e me faz bem.
Pensei que devo lavar meu tênis, arrumar o guarda-roupa, que poderia
ter escolhido outra camisa e com que roupa você deve estar. Mudei o
foco abortando esse último pensamento que de ousado esteve entre os
outros. Como osmose? Pensamentos confusos numa manhã de frio e
silêncio. Sem fossa, apenas silêncio. Sem Bethânia suave cantando
“Quero ficar com você”, sem Dolores com “A noite do meu bem”,
sem Amy com “What it is”. Sem, sem, sem. E um emaranhado deles.
Dai lembrei que devo devolver estrela por estrela derramada por você
sobre a minha solidão. E Roberta cantou. Porque céu enfeitado dá
mais esperança. Pensei nas cores pro quarto e nas fotos que iriam
ganhar destaque e não vão mais. Mas ficarão guardadas como
registro de “eu tive dias felizes ao seu ado”. E ouvi Lulu dizer
a alguém próximo que tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta
fugir nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora.
Pensei
em ir ver, mas fiquei. Hoje, só por hoje, eu quero que ela bata à
porta.