terça-feira, 26 de junho de 2012

Você não poderia surgir agora


Sobre todas as coisas que foram e as que poderiam ter sido.




Fiquei pensando em besteiras. Coisas das mais banais mesmo. O quanto estamos acostumados a ver os caminhões com aquelas espécies de caixas gigantes (que eu não sei o nome) e como eles são estranhos quando não as têm. Não estão completos. Mudei o foco após rir, é claro. Pensei sobre quão inútil é uma pessoa que joga lixo na rua, que pixa um muro por puro vandalismo, que maltrata animais, crianças e idosos, que não contribuem em nada com as suas inúteis existências e nem por isso deixam de existir. Olhei as unhas, pensei em Mel lixando as dela e ri. Pensei sobre o frio que faz nessa manhã, se devo aceitar o trabalho para o final de semana e que preciso dar uma resposta logo a Victor, se devo ir aquela festa que você vai estar, sobre o que escrever como homenagem ao aniversário de Gil. Essa minha mania de homenagear meus ídolos. É engraçada e me faz bem. Pensei que devo lavar meu tênis, arrumar o guarda-roupa, que poderia ter escolhido outra camisa e com que roupa você deve estar. Mudei o foco abortando esse último pensamento que de ousado esteve entre os outros. Como osmose? Pensamentos confusos numa manhã de frio e silêncio. Sem fossa, apenas silêncio. Sem Bethânia suave cantando “Quero ficar com você”, sem Dolores com “A noite do meu bem”, sem Amy com “What it is”. Sem, sem, sem. E um emaranhado deles. Dai lembrei que devo devolver estrela por estrela derramada por você sobre a minha solidão. E Roberta cantou. Porque céu enfeitado dá mais esperança. Pensei nas cores pro quarto e nas fotos que iriam ganhar destaque e não vão mais. Mas ficarão guardadas como registro de “eu tive dias felizes ao seu ado”. E ouvi Lulu dizer a alguém próximo que tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora.

Pensei em ir ver, mas fiquei. Hoje, só por hoje, eu quero que ela bata à porta. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

26 dias com ele



Lembrei daquela primeira conversa em que nos descobrimos em gostos em comum, e um deles era o encanto pelas cartas. Resolvi te escrever. Certo domingo enquanto nos falávamos num desses meios atuais - que se inspiraram nas cartas, eu acho - te mandei o trecho de uma música que, talvez conspiração do destino, começou a tocar. Graças a Deus (ou a energia superior que você acredita), temos as músicas pra falarem por nós. "Fala pra ele que ele é um sonho bom, que mudou o tom da sua vida". Falei. Você disse que não queria acordar. Acho que acordou, em uma realidade que contradiz o meu desejo. E te põe em silêncio e te faz ausência. Tenho tentado entender e ter a paciência que você me pediu - e que eu acho que vale a pena ter. Quero ser o menos invasivo possível, perdão se não conseguir. Às vezes acho que não consigo mesmo, mas é uma forma de dizer "Oi, ainda estou aqui, paciente, aguardando". Porque eu ainda acredito que vale a pena. E eu sei respeitar seu silêncio, mesmo com gosto amargo da ansiedade que pa(i)ra em minha garganta. Mesmo que isso não dê em nada. É que eu lembro de cada detalhe. Do seu sorriso, seu jeito só seu de ajeitar o cabelo, o mundo parado ao redor quando estou com você, a frase escrita no mural da festa no primeiro encontro, a timidez, as ligações, a festa seguinte, a exposição inesperada, o romance francês, o pôr-do-Sol com conversas reflexivas, a ansiedade pelas respostas, a conversa desastrada que nos trouxe aqui, o meu medo. Mas a minha postura de não te cobrar nada permanece. Apenas sinceridade, que é direito de todo mundo. Eu quero ficar com você, como cantou Bethânia. Mas tem meu signo me fazendo ser racional. Eu preciso saber até onde posso ir. Não que isso me impeça de ir, mas me deixa mais seguro. É sua a responsabilidade das minhas últimas alegrias. E eu não queria que fosse diferente, porque estar com você é como deixar os problemas e pesos em um mundo à parte. É mente em paz, ombros leves, sorrisos espontâneos. E isso me faz te querer por perto sempre, independente de como seja. Te desejo paz para decifrar os seus sentimentos (como você falou que precisava) e fazer as suas escolhas. Seria mentira dizer que não torço para que elas sejam as que eu desejo, mas eu quero te ver bem e tranquilo independente de qualquer coisa. Mente sã é uma dádiva e deve ser prioridade. Meu pai certa vez me falou algo que eu levo para a vida: "nada e ninguém vale a nossa paz". Só posso te desejar o bem, porque é só o que você me traz. Gostar de você é inevitável. E eu continuarei aguardando paciente. Um pouco ansioso, confesso, mas é da minha personalidade e já aprendi a conviver com isso. Espero sinceramente que você se encontre. E que você me avise, como eu te pedi e nós rimos.

Te desejo paz. 
A mesma que quero pra mim.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Terça, 19


O corpo humano é sobretudo o espelho da alma e daí vem sua maior beleza.”

Rodin






Encontrei a paz no silêncio da arte, essa que desperta as mais diversas emoções e reações. Primeiro chorei feito criança longe da mãe e ouvia música nesse momento. Dessas que parecem que foram feitas para a gente. Caminhava e chorava e ouvia música, num ritmo incessante. Busquei a paz numa igreja, não na voz de um padre que cobrava o dízimo. Pensei em sair, quando um cântico, talvez gregoriano, não entendo muito disso, se entoou na voz dos fiéis – quase cena de Almodóvar. Poucas coisas são tão bonitas quanto a fé transformada em arte ao invés de fanatismo. O padre me banhou de água benta e sai. Encontrei a paz no silêncio da arte. Entrei em um museu e vi o cotidiano retratado com beleza e simplicidade. A vida por si é arte. Mas o que eu queria ali era o silêncio de um mundo escondido dentro do mundo. Universo paralelo, esses lugares que silenciam dentro do caos da cidade. Santuários de silêncio e paz. E arte. Encontrei a paz no silêncio. Era o que a alma pedia.